Dificuldades. Perdas do ano passado somaram R$ 669 milhões, com revisão de custos do projeto do cargueiro militar KC-390 e baixa venda do avião executivo Lineage 1000; sem eventos extraordinários, fabricante teria registrado lucro de R$ 800 milhões em 2018
A Embraer encerrou um ano com resultado negativo pela primeira vez desde, pelo menos, 1999. A fabricante de aeronaves anunciou ontem que teve prejuízo de R$ 669 milhões no ano passado. Diante do desempenho, as ações da companhia – cuja venda para a americana Boeing foi aprovada no último dia 26 pelos acionistas – caíram 0,16%.
A empresa destacou, em relatório, que o prejuízo decorreu de fatos não recorrentes, ou seja, que não devem interferir nos resultados futuros. Apenas a revisão de custos do projeto do cargueiro militar KC-390 causou impacto negativo de R$ 458,7 milhões para a empresa.
O protótipo da aeronave, a maior já produzida no Brasil, saiu da pista em maio de 2018, quando realizava testes de solo, adiando a entrega do primeiro modelo para o segundo semestre deste ano.
A revisão para baixo da expectativa de vendas do avião executivo Lineage 1000 também causou impacto negativo para a Embraer, de R$ 238,2 milhões. Questionado sobre o prejuízo, o vice-presidente financeiro e de relações com os investidores, Nelson Salgado, disse que a empresa segue agora em uma rota positiva. “O grande resultado que esperamos para este ano é a conclusão do acordo”, afirmou o executivo, em teleconferência com jornalistas, referindose à venda para a Boeing.
Sem os fatos não recorrentes, a Embraer apresentou lucro de R$ 800 milhões em 2018, com queda de 38% na comparação com o ano anterior. Em nota, a companhia informou que o resultado reflete um menor número de entrega de aeronaves à medida que novos modelos foram introduzidos no mercado.
De acordo com o analista Álvaro Frasson, da Necton Investimentos, o prejuízo da Embraer já era esperado. Ele destacou, no entanto, que a falta de crescimento nos contratos fechados pela companhia tem prejudicado o preço das ações. “A empresa continua não crescendo na entrega futura de aviões, o que mostra que o mercado já está consolidado.”
No fim do ano passado, a Embraer tinha R$ 16,3 bilhões em pedidos para entregar; um ano antes, esse número era de R$ 18,3 bilhões. O número de aeronaves comerciais entregues também caiu de 101 em 2017 para 90 em 2018.
Frasson disse ainda que o revés sofrido pela Boeing no últimos dias também pressiona a fabricante brasileira de aviões. Na quarta-feira, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a decisão de manter em terra os modelos 737 MAX 7 e 8 da Boeing, após o acidente no domingo com uma dessas aeronaves na Etiópia, que matou 157 pessoas (leia mais abaixo). “Embora o acidente não tenha capacidade de afetar a parceria com a Embraer, ele pode afetar a empresa financeiramente”, afirmou o analista.
Em relatório, o Banco Safra informou que já esperava os fracos resultados do quarto trimestre e que os preços das ações da companhia refletem esses números. De acordo com o analista Lucas Marquiori, a Embraer sinalizou que teria um fraco desempenho quando revisou para baixo suas expectativas para 2018 e as entregas do último trimestre. “As entregas mais brandas da Embraer no trimestre já estavam no radar. As menores entregas nos últimos três meses de 2018 já foram antecipadas pela companhia quando revisou seu guidance (expectativas) para 2018. Portanto, vemos refletido nos preços das ações.”
Via O Estado de S. Paulo